MEMÓRIA DE UM PILOTO - PONTE AÉREA

Aeroporto Internacional de Viracopos (SBKP)

Lembranças do piloto

Eu estava prestes a pousar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 2014, quando a comissária de bordo e chefe de equipe anunciou a todos os passageiros a bordo que eu, o Comandante da aeronave, Airton Borghi, estava fazendo seu último pouso, encerrando uma carreira de 37 anos, sem quaisquer acidentes ou incidentes aeronáuticos. Foram 37 anos de muita dedicação e carinho pela aviação. Ao encerrá-la, foi com orgulho que contabilizei um total de quase 18 mil horas de voo.

Após o pouso, surpreendi-me com o fato de que diversos passageiros vieram até mim para tirar fotos comigo. Mais surpreendido ainda fiquei quando, na saída do saguão do aeroporto, deparei-me com uma faixa estendida por amigos pilotos, que me saudaram e me parabenizaram com os dizeres “A Associação de Pilotos da Gol o saúda, desejando-lhe muitas felicidades”.

Relembrando vários momentos de minha vida como piloto, não posso deixar de voltar ao ano de 1991, mais precisamente ao dia 11/11, quando a TRANSBRASIL S.A LNHAS AÉREAS iniciava seus voos na Ponte Aérea Rio-São Paulo, realizando um antigo sonho de seu ilustre fundador, o Comandante Omar Fontana. Dentre os pilotos mais experientes e voados da empresa das cores do arco-íris, tive o privilégio de ser escolhido e passar pelo treinamento para operar em aeroportos de alta complexidade de operação, como os Aeroportos Santos Dumont e Congonhas. O velho e antigo Lockheed L-188, o ELETRA II, acabara de se aposentar depois de quase 33 anos em operação em um dos trechos mais rentáveis da aviação comercial, que é - e sempre foi - a Ponte Aérea.

Cuidados com o Santos Dumont

O Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, era o que exigia mais atenção e cuidado, tanto no pouso quanto na decolagem. No Rio, o pouso era feito com configuração máxima, ou seja, Flap totalmente estendido, o que permitia uma boa aproximação para pouso com baixa velocidade e freio máximo. Isso porque a pista, com comprimento de 1323 metros, era, até então, a menor pista em operação no mundo, mas onde um B737-300 pousava e decolava com total segurança. A decolagem exigia muita atenção por parte dos pilotos, pois o “Pão de Açúcar”, que é bastante alto, fazia com que, imediatamente após a decolagem, fosse imprescindível uma curva para a esquerda de modo a desviar a aeronave do Corcovado. 

É sabido que o avião só pousa contra o vento e, no caso do Santos Dumont, é beneficiado pelo vento que entra pela “boca da barra”, proveniente do Oceano Atlântico. Por essa razão é que o pouso geralmente ocorre na cabeceira 20 L, que sobrevoa a Ponte Rio-Niterói. Entretanto, as vezes, quando muda o vento, é necessário fazer o procedimento para a cabeceira oposta, ou seja, a pista 02R. O pouso nesta cabeceira é realizado em cuidadosas condições de voo visuais, exigindo uma aproximação com bloqueio do Estádio do Maracanã, rumando, logo em seguida, em direção ao relógio da Central do Brasil. Aproávamos, depois, o Morro da Viúva para logo descer em curva sobre a Baía da Glória, enquadrando a final da cabeceira 02 R. O pouso deixa a direita a Escola Naval, que é a mais antiga e tradicional instituição militar e de ensino superior do Brasil, localizada na ilha de Villegagnon.
Pista de pouso 20L - Aeroporto do Rio de Janeiro - Santos Dumont 
Pista de pouso 02R - Aeroporto do Rio de Janeiro - Santos Dumont 

Ponte Aérea

O substituto do ELETRA II, o BOEING 737-300, com motor B2, passou a voar no trecho Rio-São Paulo em apenas 35 minutos, ou seja, a metade do tempo de seu antecessor. Além disso, esse mais novo ator da Ponte Aérea transportava quase o dobro de passageiros, o que significava maior rentabilidade para as companhias aéreas.

A Ponte Aérea Rio-Sao Paulo, caracteriza-se pelo transporte de passageiros executivos na sua maioria, e também por passageiros eventuais, que vão ao Rio para turismo, ou chegam em São Paulo a trabalho, ou para fazer compras. Como é um voo curto e a aeronave não pode decolar muito pesada, pois há um limitante de peso para decolagem e também para pouso, ou no Santos Dumont ou em Congonhas, a disponibilidade de carga para estes voos são bastante restritivas. Pode ocorrer o despacho de carga com um valor agregado bastante alto. Portanto, a Ponte Aérea não tem no transporte de carga um viés econômico.

Integrei a primeira turma que voou o B737-300 na Ponte Aérea Rio-São Paulo. Fiz esse trajeto desde o seu início, em novembro de 1991, até agosto de 1995, quando regressei para voos de rota mais longa. Voei com essa aeronave cerca de 1800 horas e realizei 1710 pousos. Não me canso de repetir que aquela foi a melhor época de minha vida como piloto comercial. Pilotos nessa rota passam por exaustivos treinamentos não só em simuladores de voo, mas também em treinamentos de pousos e decolagens em aviões sem passageiros, o que denota seriedade e responsabilidade na preparação para voos em aeroportos com a complexidade do Santos Dumont. A disciplina e a forte aderência aos procedimentos e normas de segurança de voo garantem o sucesso de decolagem e pouso.

O Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tem igualmente características especiais de operação, principalmente porque sobrevoa o Bairro do Jabaquara para pouso na 35 L. Essa operação de pouso é ainda mais dificultada sob chuva ou em condições adversas de vento cruzado e pouca visibilidade. A outra cabeceira do lado oposto, a 17 R, exercia sobre mim um encanto especial, pois, na aproximação por Moema, eu gostava de ver as luzes do hipódromo da Cidade Jardim. Isso sempre me remetia aos primeiros anos de minha infância, quando meu pai me levava e a meus irmãos para assistir `as corridas de cavalo.
Pista de pouso 35L - Aeroporto de São Paulo - Congonhas 
Pista de pouso 17R - Aeroporto de São Paulo - Congonhas

Palavras de um piloto privilegiado

“Ponte Aérea, que une cidades,
 Ponte Aérea, que une sonhos,
 Ponte Aérea que jamais separa
 Ponte Aérea feita por mãos hábeis
 Dos pilotos que cruzam este firmamento
 De formas elípticas como as cores do arco íris”

Comandante Airton Borghi
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