Em 1992, eu Ariovaldo Borghi, como colaborador da Transbrasil S.A. Linhas Aéreas, tive juntamente com alguns colegas, o privilégio de participar do projeto de confecção e lançamento do livro em homenagem a Esquadrilha da Fumaça. A Transbrasil foi patrocinadora do evento juntamente com a Embraer, Ford, Agência Estado, Seguros Sasse e Banespa.
Nosso objetivo é descrever de forma sucinta as emoções e os aprendizados vividos nesse período.
Começavam os anos 50. O rádio vivia sua época de ouro e o novíssimo e escandaloso biquíni causava sensação no verão infindável do Rio de Janeiro, a capital da República.
No subúrbio de Marechal Hermes, bem longe da Princesinha do Mar cantada pelos astros do rádio, o calor era tanto que alguns instrutores de voo avançado da Escola da Aeronáutica, no Campo dos Afonsos, preferiam almoçar sanduíches numa arejada sala do hangar a enfrentar o rancho na abafada cantina dos oficiais – onde só podiam entrar vestindo gravata e jaqueta, uma antiquada exigência protocolar.
Eram quatro jovens tenentes chamados: Mario Sobrinho Domenech, Haroldo Ribeiro Fraga, Candido Martins da Rosa, Jayme Selles Collomer – uma turma de entusiasta das manobras de caça, do combate aéreo que gastavam o tempo que sobrava do almoço praticando essas manobras e voos de precisão sobre a Barra da Tijuca com os seus North American T-6 Texan.
Ninguém sabia ainda mas naquele ano de 1952 estava nascendo, ali nos Afonsos, um time acrobático que se tornaria mundialmente famoso: a Esquadrilha da Fumaça.
No começo eram só loopings e tunôs com dois aviões. Conforme foram melhorando suas habilidades, passaram a voar com três e finalmente com quatro aviões sincronizados, cuja velocidade de cruzeiro era de 240km/h e a máxima de 330km/h. A aeronave era equipada com motor Pratt & Whitney.
Esses desbravadores logo ganharam o apelido de “cambalhoteiros” e suas peripécias aéreas fascinavam os cadetes e outros instrutores. A primeira demonstração pública, com a esquadrilha ainda sem nome, sem insígnia e sem fumaça, aconteceu em 14 de maio de 1952, no próprio Campo dos Afonsos.
Foi Domenech que propôs a ideia de inclusão da fumaça nas demonstrações e sua ideia foi imediatamente aprovada – a fumaça tornava as manobras mais visíveis ao público. Esse mecanismo simples continua o mesmo até hoje. Aloca-se óleo fino em um tanque, e através dos dutos e uma bomba, é lançado no tubo de escapamento do motor; com o calor, o óleo vaporiza-se na fumaça branca. A estreia do dispositivo de fumaça foi no final de 1953.
As cores branca com listras em vermelho e azul mais um raio vermelho cruzando a lateral da aeronave, foi uma criação do piloto Collomer. Para a escolha do símbolo da Esquadrilha da Fumaça foi feito um concurso dentro da FAB. Após uma apresentação espetacular no Ibirapuera-SP o ministro da aeronáutica reconhecendo o potencial do grupo, transferiu os cinco T-6´s para seu uso exclusivo.
A despedida dos T-6 aconteceu em janeiro de 1976, depois de 1.272 demonstrações no Brasil e no exterior. Atualmente as aeronaves utilizadas pela Esquadrilha da Fumaça são os Embraer EMB-312 Tucano T-27 de fabricação brasileira. A Esquadrilha começou meio por acaso. Devagar, foi ganhando os céus brasileiros e conquistando corações e mentes. Tudo por uma cambalhota. Tudo por um sonho!